3 de dezembro de 2011

A alma dos distraídos


A fotografia de rua capta basicamente o que há de mais comum: os pequenos momentos. Os pormenores do quotidiano, aqueles a que ninguém dá muita importância, nem se lembra, muito menos se importa. Uma mulher pensativa com uma sacola de compras a atravessar a rua, um casal de jovens a olhar uma vitrine, amigos que se encontram nas esquinas. Apenas detalhes.
Há pessoas que passam a vida ao nosso lado e não conseguem perceber a nossa essência, muito menos a essência de certas particularidades. porque não percebem esses detalhes. Não captam, não intuêm. Não vêem a gravidade ou a beleza das coisas se não estiverem evidentes. Por outro lado, há pessoas, nem tão próximas de nós que conseguem observar esses detalhes de algum nosso momento, conseguem captar a alma de algumas das nossas circunstâncias, de alguns lugares, das coisas, das horas. E o fazem por não estarem distraídas nas expressões, nos olhares, nos modos de andar alheios. E o fazem poque gostam dos outros a ponto de os outros não os aborrecerem de tédio quando estão a praticar as actividades mais comuns.
É o caso dele - apaixonado em captar esses pequenos momentos tão comuns no dia-a-dia, mas tão raros nas percepções. Sempre gostou de pessoas - particularmente de observá-las. É do tipo que se senta num banco de praça, ou de um jardim, e fica o dia todo apenas a observar quem por ele passa.
Conta que a sua mente faz composições, monta e arranja cenas. Vê sempre tudo enquadrado, como se os seus olhos fossem uma câmara. Então começou a fotografar todas aquelas desatenções, todas as coisas que passam despercebidas.
Um método um tanto despretencioso, mas original por causa da espontaneidade das fotografias. Sem composições padronizadas se criam imagens a partir do quase nada. Tudo o que se tem, é o que se vê. E é excitante, justamente porque é algo que não podemos controlar, com o movimento, os ângulos ou a luz. Talvez seja o método em que mais se precisa da velha e boa intuição.
Na fotografia de rua, a única coisa que podemos controlar é a lente no momento do clique, nada mais. A fotografia de rua nem dá margem para a escolha do fotógrafo acerca do quê fotografar. Ele simplesmente fotografa o que está a acontecer naquele instante. E a escolha do instante a fotografar é muito mais um sentimento que uma escolha.
Obviamente, para um bom resultado é fundamental que se tenha uma câmara rápida. Isso significa evitar o atraso entre a pressão e o clique do botão obturador. Se a câmara é rápida, então consegue-se exactamente a imagem desejada e não o que aconteceu no décimo de segundo seguinte.






A essência da fotografia de rua é captar momentos, e os momentos acontecem num piscar de olhos.